terça-feira, 13 de outubro de 2015

Tarja Branca

Ô, solta da minha mão,
me larga!

Já calcei minhas galochas
e vou chapinhar nas poças
dos meus problemas.

Friagem:
deixe que venha,
deixe que assopre,
deixe que me resfrie.

Não, mãe,
joga esse guarda-chuva pra lá
e vem cá você também,
porque o convite é de brincar
com a queda livre das gotas grossas,
que vão redesenhar
o contorno do meu corpo,
vão lavar a minha alma de caliça,
puída pelo cansaço
crônico dessa sociedade.

Hoje, cidade,
não quero teu cinza,
não quero teu asfalto,
não quero teu estresse.

Vem, pai,
grama nunca fez mal a ninguém!
Coragem, vai,
aproveita essa chuva enquanto tem.
Só pendura aí esse sobretudo
que a gente veste pra parecer adulto
porque a água não gosta dele não -
deixa ele bem pesado
e assim fica difícil saltar.

Ô, se esbalda,
se solta!

Curte essa sensação
de se sentir molhado,
de tremer com o frio,
de ficar com os lábios roxos
e os dedos enrugados,
porque amanhã...

Amanhã pode ser tarde:
a previsão é de sol
e vamos ter outras coisas
pra fazer!

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