Tudo que me toca e me fascina,
pra mim parece poesia:
um jornal e uma xícara de café
a moça no parque vestida de azul,
a câmera na mão da menina,
o carteiro que passou e ninguém viu;
O açougueiro assobiando na rua,
e o balanço do salgueiro no outono;
É a partitura;
É a música;
É quem toca,
e quem escuta;
Um menino
lendo um livro
sentado à porta
de uma igreja;
É a sensação
de quando o sol se põe
num infinito de céu que escurece;
É um arco-íris enclausurado
numa bolha de sabão;
A mulher de olhar reticente,
e também o homem comprando passagens;
São os movimentos da mão;
O tlec-tlec da minha máquina de escrever
e o vaivém de pessoas e de trens
na estação;
É o escuro, é o couro, é o mudo,
e o sangue, e o amarelo, e o funil.
E é tanta coisa bonita
que com tanta coisa rima
no sentimento e na grafia
que sei lá,
minha contemplação das coisas ordinárias
toma tanto do meu tempo
que sei não,
devo ser tão ordinário quanto.
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